Os cenários do interior nordestino, muitas vezes retratados de forma caricata, compõem agora um universo particular, surrealista e com sentimentos indecifráveis. A arte de Demetrius Montenegro está em constante desconstrução.

As mudanças, para ele, representam a evolução para um novo momento, uma nova etapa. Sinônimo de arte é transformação: “Ela não existe de forma verdadeira sem os processos transformadores, sem a verdade contida nessa energia radiante. Muitas vezes devemos praticar o desapego em nosso experimentar, brincar com novos elementos, não se prender a padrões ditatoriais”.

Seu primeiro contato com pinturas se deu numa bíblia ilustrada que sempre ficava aberta sobre o aparador na sala principal de sua casa. As obras fantásticas de Rembrandt, Giotto, Caravaggio e a que mais lhe chamou atenção: “A Anunciação” de Fra Angélico. “Até hoje me causa algum tipo de sensação, algo que se perdeu no tempo e no espaço”, destaca.  Na adolescência se apaixonou pelos clássicos da literatura, outra fonte muito importante de inspirações.

Para ele, a arte é como uma energia que o acompanha desde as lembranças mais remotas, e que precisa ser constantemente expressada. “A arte e a minha personalidade se fundem, estão intrinsecamente juntas, em todos os momentos, em todos os sentidos, é a complementação da minha visão de mundo, é a maneira como procedo desde as coisas mais banais, passando pelas mais espiritualizadas, uma mística acontece, tudo parte desse referencial”.

Demétrius passou meia década com exposição fixa na Pipa e, depois disso, expôs até em outros países, como Guatemala e Colômbia, antes de voltar ao Brasil, passando por Salvador, Rio e São Paulo – individual de um mês no Intercontinental. Em Natal, tem telas na Galeria Iguales. A pandemia o fez pintar menos. “[É] um período de mais observações”, revela.

Tallyson Moura