Até quando a moda vai precisar ditar tendências do futuro ou se reposicionar por meio do que já foi ditado?
Por Renan Yuri Veiga
Em meios de pandemia, cabe a cada um de nós nos preocupar com o que podemos ser e fazer agora – visto que, numa visão geral, planos a longo prazo e criações para o futuro são facilmente descartadas devido às incertezas que vivemos. E, como se não bastasse, as inseguranças do mercado da moda trazem a tona diversas fragilidades, dentre elas: dificuldade de vendas x compras; problemas de produções primárias (principalmente as de matéria prima para confecção) e muitas outras coisas que talvez nem valha a pena citar, mas que você pode refletir a partir de agora – caso já não o tenha feito.
Mas por qual razão devemos nós nos preocupar com essas mudanças? E com que intuito é preciso viver a moda no presente?
Fomos condicionados a nos preparar para algo que pode vir e desse pensamento industrial surge um déficit de atenção com o que estamos passando, até que vem a tona a pandemia e nos mostra o que realmente importa e o que podemos fazer com o que temos no presente momento.
Empresas estão investindo em produção segura, no uso de materiais antibactericidas na composição das peças, na produção slow-fashion que tende a criar apenas o que será vendido (sem tanta preocupação com estoque e vendas em massa), mas o que gostaríamos de citar nesse artigo é a importância que a moda tem, agora mais que nunca, de comunicar seus ideais e de olhar coletivamente para os desafios que estamos enfrentando neste momento.
Estamos conectados, mas isolados. E isso tem que mudar! A conexão não é apenas pelas redes sociais e canais da internet, mas sim por aquilo que pensamos e podemos fazer juntos para mudar o que nunca foi aceito, mas que agora temos forças para encerrar ciclos de preconceito e racismo, a citar, criando maneiras de incluir e trabalhar juntos com o público. As pessoas agora participam das criações de moda, elas não são passivas e aceitam as coisas como antigamente.
E como isso nos faz parar para viver a moda no aqui e agora?
A resposta pode ser simples, mas fazer acontecer é nosso grande dilema. Viver a moda hoje é entender que a representatividade existe e o consumidor final precisa ser ouvido, pois é por meio dele que a moda se difunde – e não ao contrário. O que antes era criado de forma centralizada, seja por uma marca ou designer, agora é feito de duas vias: a criação é concedida por base no que o consumidor vive e fala, depois é avaliada por meio de dar ouvido novamente ao receptor e dessa troca se fazer valer a pena.
E tem mais: Se sua criação fere ou trata com desdém as escolhas do outro, sejam elas de tradição, etnia, cultura, sexualidade, ancestralidade e etc, é bem possível que ela não dure por muito tempo, visto que o que temos de maior valor na atualidade é aquilo que somos. E vale mais ainda salientar que se você não busca entender nossas complexidades atuais e cria de modo raso novos valores (baseado apenas no que é dito sobre os pontos citados para atrair dinheiro), você não vai durar nem no presente e não vai consistir num futuro ideal.
Com esse artigo, não buscamos parar de projetar um futuro que desejamos, onde a moda será justa com novas marcas, modelos e demais profissionais da área, mas sim dizer que vale a pena observar o que está acontecendo no momento para ter novos olhares e novos caminhos, sem se perder com o que foi dito, mas levando em conta o que já foi falado e o que precisa ser mudado agora!
Com isso, deixamos uma última reflexão: O que você tem feito agora em relação a isso tudo que falamos?