A necessidade de discutirmos sobre a saúde mental masculina dentro das novas representações sobre o que é ser homem no século XXI
Texto Petrônio Macedo de Azevedo
Sempre que convidado a uma reflexão, penso na proposta contida na pergunta como forma de limitar o pensamento e os afetos contidos na pergunta, no título. E, como não posso dar conta do assuntos totalmente, preciso ser poroso o suficiente para me manter curioso e atento.
Dada a necessidade de discutir, falo que o espaço de fala é, de forma inequívoca, base para a reflexão sobre o assunto. Quando se fala em ser homem, muito mais urente é entendermos que este homem social é formatado, ou conformado (prensado numa forma), se apresenta para mim, como um ofício aparente, parecendo com o contorno da forma. Assim, preciso parecer homem, agir, andar e reagir como tal. Restam, então, na minha cabeça, duas questões básicas. A primeira seria: sou um homem, ou seja, me comporto “como” um homem? E a segunda: quando me tornei um homem, uma vez que executei mais ou menos esses rituais de acesso?
Questionado isso, pergunto a você leitor: Quando você se tornou um Homem? E, se teve tal promoção confirmada, o que é para você ser um homem contemporâneo? Sei que, nesse momento, eu e você ficamos intrigados com nossas próprias questões. Isso indica que esse assunto merece reflexão.
Se tudo no nosso sistema (universo) é sistêmico, penso em dualidades, Então sou homem em relação, sou homem em relação a outro homem, em relação à mulher, em relação ao meio ambiente e assim por diante. Somos de uma espécie relacional, precisamos de referências. Portanto, parecer em maior ou menor grau um homem, ao molde social, cria uma masculinidade frágil, afinal pareço. Então, ser um homem nesses moldes não é um lugar de repouso, um lugar legítimo. Esse homem social, que se comporta como um homem esperado, tende a ser vigilante, atento, ansioso e muito ameaçado, pois não tem legitimidade, não tem propriedade sobre esse título, pois age como homem, mas não sabe de fato se é ou como quer ser homem
Pronto, essa questão talvez nos transporte para o nosso presente, o aqui e agora. Como quero e como posso representar a minha masculinidade? Será que preciso da aprovação de machos certificados? Tenho de repetir rituais e posturas? Quero isso para mim?
Essa liberdade consciente para escolher, depende de uma prévia aprovação que vem de dentro, nesse caso aqui também de uma provocação minha. Ser homem com as minhas próprias medidas é sempre um processo, assim como não ser. O primeiro gera liberdade, relaxamento, uma dose muito saudável de genuinidade, de criatividade e solidão. O segundo processo me gera conformidade, coletividade, aceitação social, mas um ranço de passado, e uma eterna vigília, para não ser descoberto, afinal, parecer um homem não tem lugar próprio. Parecer é um trabalho, algo do externo, do aparente.
Se você ousar, puder (potência), pensar (reflexão) e começar a entender (afetos), onde te colocaram socialmente, onde você se colocou socialmente, vai, aos poucos em um processo, andando em direção à sua própria masculinidade, mais humana para dentro e para fora.
Não posso me furtar de uma última provocação: Homem o que você SENTE (sentimentos) agora?
Petrônio Macedo de Azevedo
Psicólogo mineiro radicado no Rio de Janeiro, especialista em Gestalt-terapia. Atuação clínica com indivíduos, grupos, casais e famílias. Particularmente curioso na questão da masculinidade, atuando com psicoterapia online em grupos de homens.