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D-aura

Moda e arquitetura são dois temas que sempre mantiveram um diálogo muito coeso. Duas áreas que buscam suprir necessidades básicas, porém distintas do ser humano, como vestir e habitar, mas desde os primórdios se influenciam mutuamente e são conectadas na marca D-aura, pelas mãos de seu criador, o arquiteto e estilista Lucas Menezes

Por Marina Seif

O estilista conta que sempre teve curiosidade sobre o processo de criação e confecção de peças do vestuário, mas na escolha do curso optou por arquitetura. Ainda na faculdade e trabalhando com outros arquitetos, começou a se inquietar por perceber que ali não conseguiria expressar todo seu potencial criativo. Foi quando, em 2016, surgiu a D-aura.

Inicialmente, a intenção de Lucas era suprir os seus desejos de consumo de vestuário e se tornar mais autossuficiente neste aspecto. Como afirma o próprio estilista, tudo começou de forma muito empírica, onde ele foi testando formas e processos e aos poucos foi conquistando amigos. Sendo assim, tomando uma proporção muito maior que o imaginado, se tornando uma atividade que lhe despertava mais prazer que a arquitetura.

A metodologia aprendida e desenvolvida na faculdade, utilizada para pensar os espaços arquitetônicos foi empregada na criação das peças, sendo um processo dominado pelo estilista. Como seu objetivo com a marca era desenvolver peças diferentes das convencionalmente encontradas no mercado, a metodologia da arquitetura lhe pareceu conveniente, por ser menos utilizada na confecção do vestuário e por isso proporcionar um resultado diferente.

O estilista diz que ao pensar na arquitetura, o que mais o inspirava era o percurso do usuário dentro do espaço, as funções a serem executadas neste e como a sua plasticidade amplificava esses momentos e ao pensar a roupa ele costuma criar esse mesmo percurso; pensar sobre a usabilidade da peça, qual função ela está tentando cumprir e como que o design daquele item contribuirá para a experiência de quem for vesti-la. “Gosto de pensar, às vezes metaforicamente, que vamos do projeto piloto ao executivo com as roupas, da mesma forma como fazíamos com os projetos arquitetônicos, pensando nos cortes, elevações. Essas minúcias sempre costumam nutrir o processo criativo dos nossos vestuários e acredito que os tornam únicos.” Hoje ele atua como diretor comercial e criativo da marca, que tem como o DNA seu processo criativo.

“Gosto de pensar, às vezes metaforicamente, que vamos do projeto piloto ao executivo com as roupas, da mesma forma como fazíamos com os projetos arquitetônicos, pensando nos cortes, elevações.”

Marca agênero e novos rumos pós-pandemia

Sobre a aceitação de uma marca agênero pelo público, Lucas afirma que “temos um público ainda muito pequeno que defenda essa moda dentro do Brasil, quando comparada a alguns outros lugares do mundo, mas notamos o crescimento nos últimos tempos. É possível perceber isso quando notamos o aumento de concept stores no Brasil destinadas a esse recorte dentro do campo do vestuário. A importância disso é uma maior democratização da moda que se interliga com questionamentos de construções sociais específicas ao gênero. Assistimos aos poucos essas questões, dentro da sociedade ascenderem e seu reflexo dentro do campo da moda são imediatos. Acredito que daí venha esse crescimento e ficamos felizes em ver tal quadro acontecendo e ainda mais felizes em pensarmos que, de alguma maneira, ao vestirmos essa camisa e acreditar nesse recorte, estamos contribuindo pra dar mais corpo a essas discussões”.

Com a chegada da pandemia a marca se deparou com novos desafios e o primeiro e talvez mais difícil segundo Lucas, foi manter a cabeça no lugar. No começo desse período houve um grande alarde de que seria o fim de todos os negócios, que todos iriam falir. Mas o que aconteceu de fato foi a necessidade de olhar para si, entender e aceitar que tinham que se remodelar e adaptar a este período. “Foi um momento de olharmos para nosso desempenho online, reavaliar a necessidade dos nossos processos, filtrando e aperfeiçoando pontos fracos. Acredito que nós, juntos de outras marcas, já trazíamos em nosso DNA valores de consumo, que aos poucos está se aflorando dentro da mentalidade do consumidor. Então para nós, nesse momento, é realmente calcular nossos passos para conseguirmos passar por esse momento de crise, para podermos, quando tudo isso passar, colher os frutos que vínhamos plantando desde algum tempo, que só não estavam sendo olhados e valorizados como deveriam.”

Desse modo, isso fez com que o estilista precisasse focar em seu processo online. Uma área que tinha pouca atenção dentro da marca, tem se dedicado em melhorar seu desempenho no mundo virtual, revendo seus canais de comunicação, entre outros aspectos. Além disso, estão resgatando, de maneira mais firme, seus projetos colaborativos e acabaram de assinar uma coleção junto com o Cartel011. Por acreditarem que um coletivo forte tem mais potencial de crescimento que cada um por si, buscam cada vez mais fortalecer esse tipo de iniciativa e já estudam outros projetos. Se depender de seu criador, novidades não faltarão para a D-Aura. Ficamos aqui aguardando ansiosamente!

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