por Marina Seif
Já dizia o escritor irlandês Oscar Wilde (1854-1900) “devemos ser uma obra de arte ou vestir uma”. E ele levava esta máxima a sério, exprimindo-a em seus textos e se vestindo de forma ao mesmo tempo que elegante, excêntrica.
Esse modo de se vestir fez de Wilde tenha um dos expoentes do movimento intitulado dandismo, que além de influenciar o traje masculino no século XIX, influencia o modo de vida no período, modo este marcado pela valorização máxima do belo e da intelectualidade. Era o dândi um cavalheiro, dono de maneiras polidas, amante das artes e com inclinações hedonistas. Os trajes impecáveis eram reflexo de seu modo de pensar e viver, considerado por eles, como superiores.
Beau Brummell em ilustração de Robert Dighton, 1805. |
O dandismo surge como um movimento anti-moda de repúdio aos trajes exagerados usados pela aristocracia no século XVIII. Se reprovavam o modo de vestir aristocrático, repudiavam da mesma forma o modo de vida burguês do oitocentos, ligado ao trabalho na indústria e considerado por eles vulgar. Seu criador, George Bryan “Beau” Brummell (1778–1840), como mostra no filme Beau Brummel: This Charmming Man, foi o responsável pela mudança do visual do Rei George IV, fazendo-o abandonar os laços, rendas e maquiagem exagerada normalmente utilizados pelos aristocratas e adotar um visual mais comedido e elegante, que viria a ser marca dos dândis no período.
O visual dos dândis era composto sempre por ternos eram sempre muito bem cortados e alinhados, com calças e coletes justos, paletó de corte impecável, camisas de gola alta empertigada e engomada, adornadas com o plastron, uma espécie de lenço usado amarrado ao pescoço. Esse conjunto lhes impedia de movimentar demais o pescoço e conferiam um ar esnobe e de superioridade. Para completar a produção, usavam bengala, cartola e sapatos de bico fino. Além do traje eximiamente bem cortado, todos os detalhes de sua aparência eram minuciosamente cuidados. As barbas deveriam estar sempre bem aparadas e as botas escovadas.
Os princípios do traje dos dândis influenciam o vestir ainda nos dias de hoje, com o uso dos ternos pelos homens em situações mais formais. O movimento serve também de inspiração para muitos estilistas, que trabalham os princípios da elegância e da sofisticação do dandismo em peças de alfaiataria tanto masculina como femininas. O criador de moda Karl Lagerfeld (1933-2019) não só utilizou o estilo como inspiração para o seu trabalho, como aderiu ao estilo para compor a sua própria imagem.