Uma nova coluna no site, centrada no desacelerar, no despertar da consciência e na busca por novos caminhos, mostrando que o fenômeno da mudança pode começar por nós mesmos…
A Cartola nasceu com a proposta de trazer moda masculina, arte e até filosofia em diversas linguagens, apresentando o homem moderno sob um olhar diferenciado, questionador e artístico. Uma revista para os amantes das artes e do conhecimento. No entanto, na correria e adaptação ao mercado um pouco disso ficou no caminho… O fato é que hoje tudo está centrado no tempo, e as revistas, jornais, sites, semanas de moda e redes sociais têm sido como rolos compressores de informação para garantir que o ciclo do mercado continue vivo. Como a principal função dos rolos é nivelar terrenos, a tendência é que, para auxiliar na otimização do tempo, as diferenças (inclusive as de formato de conteúdo) sejam poucas e a comunicação seja o mais breve possível. Mas podemos mudar, desacelerar, traçar novos caminhos e ser a diferença.
Esse é o principal motivo desse novo espaço, com mais informação escrita sobre moda, arte e cultura. Quero que seja um espaço interativo e aberto a sugestões e novidades. Para isso, meu Instagram e o da revista estão abertos para receberem sugestões, discussões, críticas, elogios, reclamações ou declarações de amor, e assim vamos moldando a coluna, deixando-a bem ao gosto do público!
O fenômeno da mudança
Canclini, em seus estudos sobre consumo, fala que esse modelo de produção (fast fashion) em diferentes localidades faz com que a roupa perca a relação de fidelidade com os territórios originários, realizando a apropriação de processos socioculturais e o uso de produtos fora de seu contexto de criação. Não quero chegar à discussão sobre apropriação cultural (?), apenas afirmar que a roupa, como célula básica desse fenômeno, deveria carregar símbolos, modos de fazer e identidades que façam sentido para quem veste. Novamente digo: moda é comunicação. Mesmo que a roupa não defina a complexidade de um ser humano, ela nos diz muito sobre quem veste, porque o consumo não se dá apenas do produto, mas também dos ideais e processos que foram incorporados a ele.
Já parou para pensar o quanto esses aspectos de produção e consumo da moda influenciam nosso comportamento? Flesser diria que é possível reconhecer os homens por suas fábricas. E ele está certo. Os modelos de produção estabelecidos por elas dão origem a uma série de padrões mentais e comportamentais que são reproduzidos na sociedade. Automatização, aculturação e busca pelo “exótico” na moda; Tinder como um supermercado de pessoas; culto ao simulacro digital… Tudo rápido e líquido, não só na moda.
Felizmente, paralelo ao fast fashion, surgem outras formas de produzir e consumir com o objetivo de encontrar soluções para problemas gerados pelo atual sistema. Vejo cada vez mais marcas voltadas à regionalidade, colaborativas e sustentáveis, e isso pode ser parte do Lowsumerism – movimento que tem como proposta o despertar da consciência e a diminuição do consumo.
Associado ao movimento, o slow fashion veio defendendo a criação de peças atemporais, de design autoral, colaborativo, sustentável e cujos processos de produção sejam mais artesanais e humanos. Além disso, acredita na reutilização dos produtos, desde o compartilhamento entre amigos e familiares, upcycling, conserto e a compras e vendas em brechós. É, portanto, uma alternativa de diminuir os impactos do consumismo.